15/05/2025 às 11h52 - Atualizado em 15/05/2025 às 11h52

Museu, Memória e Democracia: Uma Jornada pelos Espaços de Patrimônio do DF

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Com foco no direito à memória, a iniciativa promove visitas técnicas, educação patrimonial e reflexões sobre o patrimônio cultural de Brasília

 

 

Grupo de participantes do projeto “Museus, Memória e Democracia” registra momento de integração e aprendizado em frente ao Museu Nacional da República, símbolo da valorização da cultura e da memória no Brasil. (Crédito: Projeto Museus, Memória e Democracia)

 

No Dia Internacional dos Museus, comemorado neste 18 de maio, um projeto desenvolvido por professores e estudantes da Universidade Católica de Brasília (UCB) ganha destaque ao lançar luz sobre histórias pouco conhecidas e ampliar o acesso aos espaços de herança cultural do Distrito Federal. Intitulado “Museus, Patrimônio e Direito à Memória”, o trabalho é coordenado pelo professor Gustavo Menon e financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do edital de Demanda Espontânea 2022, com o fomento de R$ 177 mil reais.

 

A iniciativa integra ensino, pesquisa e extensão, reunindo estudantes de diferentes cursos da UCB em visitas técnicas a museus e instituições culturais da capital. O objetivo? Refletir criticamente sobre o papel dos acervos museológicos e sua relação com o direito à cidade, à cidadania e à memória coletiva.

 

“Muitos dos nossos alunos, sobretudo os que moram em regiões como Ceilândia e Taguatinga, nunca haviam entrado no Congresso Nacional ou em museus centrais de Brasília. O projeto rompe essas barreiras geográficas e simbólicas, tornando o acesso à cultura um direito real”, destaca Menon.

 

Estudantes exploram as obras expostas no interior do Museu Nacional da República, em Brasília, em uma mostra que celebra a arte contemporânea, papel dos museus na preservação da memória. (Crédito: Projeto Museus, Memória e Democracia)

 

Patrimônio acessível e memória plural

 

Os participantes visitaram espaços como o Museu Nacional da República, o Memorial dos Povos Indígenas, o Museu do Voto (TSE), o Palácio Itamaraty e o Memorial JK. Durante os percursos, acompanhados pelas equipes educativas, os estudantes participaram de dinâmicas de leitura crítica dos acervos e debateram temas como diversidade, democracia, relações étnico-raciais e direitos humanos.

 

A análise documental envolveu fichas de exposição e questionários aplicados durante as visitas. A metodologia utilizada foi a pesquisa-ação, com os próprios pesquisadores atuando de forma participativa e reflexiva nos encontros.

 

“Este projeto está profundamente alinhado à missão da FAPDF de promover a ciência como instrumento de transformação social. Ao incentivar a reflexão crítica sobre a memória e o patrimônio cultural, contribuímos para uma sociedade mais consciente, plural e democrática — em que o conhecimento gerado nas universidades chega efetivamente às pessoas e aos territórios”, afirma o presidente da Fundação, Marco Antônio Costa Júnior.

 

Olhar para além do Plano Piloto

 

Na segunda fase do projeto, os organizadores pretendem expandir o roteiro formativo para regiões fora do Plano Piloto, incluindo locais simbólicos como o Catetinho — primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek — e o Museu Vivo da Memória Candanga, que homenageia os trabalhadores que ergueram Brasília.

 

Além disso, há planos para ampliar as parcerias com universidades como a UnB, a UnDF, e órgãos como o IPHAN e a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, com foco na formulação de políticas públicas que valorizem o patrimônio cultural e promovam a inclusão.

 

 

A icônica arquitetura do Museu Nacional da República emoldura a paisagem da Esplanada dos Ministérios, destacando-se como espaço simbólico de cultura e reflexão democrática. (Crédito: Projeto Museus, Memória e Democracia)

 

Contra o silêncio e a exclusão

 

O projeto também assume uma postura crítica frente aos processos de patrimonialização que, historicamente, excluíram memórias de povos indígenas, comunidades negras, quilombolas e trabalhadores migrantes — como os candangos. “É preciso questionar a história oficial e abrir espaço para outras narrativas, muitas vezes silenciadas pelos discursos dominantes”, afirma o coordenador.

 

A proposta está em sintonia com os princípios da nova museologia, que propõe práticas mais participativas, plurais e engajadas socialmente. “O museu não é apenas um lugar de conservação de objetos, mas um espaço vivo de debate, pertencimento e transformação social”, acrescenta Menon.

 

Resultados e legado

 

O projeto já resultou em um repositório digital, onde estão disponíveis os registros das visitas, reflexões e materiais didáticos produzidos. O site funciona como um espaço de memória coletiva e também como instrumento de ensino para futuras turmas. Acesse: Projeto de Pesquisa e Extensão desenvolvido pela Universidade Católica de Brasília (UCB)

 

Reportagem: Natasha Oliveira
Edição: Gabriela Pereira